quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Entrevista sobre a Ditadura

1) Que dia você nasceu e que idade tinha quando começou a Ditadura Militar?

R: Nasci no dia 10/04/1954 e tinha 10 anos na época.

2) Como você vivia na ditadura?

R: Vivia muito mal, por causa da repressão e a censura.

3) Você era contra ou a favor dela? Por quê?

R: Eu era contra, porque não podíamos falar o que pensávamos e não tínhamos liberdade.

4)Você era militar na época?

R: Não.

5) O que os militares faziam em relação aos que protestavam contra a ditadura?

R: Torturavam e etc...e ninguém tinha direito de defesa.

6) Quais torturas eles usavam na época?

R:Batiam com qualquer coisa, espancavam e pelo que me lembro era isso.

7) Você lembra o que faziam com a imprensa naquela época?

R: Era censurada.

8) O que mudou e o que continua igual para você em relação àqueles tempos?

R: Mudou tudo, nada continua igual.

9) Você já participou de algum movimento anti-ditadura ou a favor dela?

R: Não

10) Alguém da sua família morreu naquela época?

R: Que eu me lembre, não.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Guerra Fria

Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Em resumo, foi um conflito de ordem política, militar, tecnológica, econômica, social e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência.

Uma parte dos historiadores defende que esta foi uma disputa entre o capitalismo, representado pelos Estados Unidos e o socialismo, defendido pela União Soviética (URSS). Entretanto, esta caracterização só pode ser considerada válida com uma série de restrições e apenas para o período do imediato pós-Segunda Guerra Mundial, até a década de 1950. Logo após, nos anos 1960, o bloco socialista se dividiu e durante as décadas de 1970 e 1980, a China comunista se aliou aos Estados Unidos na disputa contra a União Soviética. Além disso, muitas das disputas regionais envolveram Estados capitalistas, como os Estados Unidos contra diversas potências locais mais nacionalistas.

É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta ou seja bélica, "quente", entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente estadunidense Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".

Dada a impossibilidade da resolução do confronto no plano estratégico, pela via tradicional da guerra aberta e direta que envolveria um confronto nuclear; as duas superpotências passaram a disputar poder de influência política, econômica e ideológica em todo o mundo. Este processo se caracterizou pelo envolvimento dos Estados Unidos e União Soviética em diversas guerras regionais, onde cada potência apoiava um dos lados em guerra. Estados Unidos e União Soviética não apenas financiavam lados opostos no confronto, disputando influência político-ideológica, mas também para mostrar o seu poder de fogo e reforçar as alianças regionais.

Neste contexto, os chamados países não alinhados, mantiveram-se fora do conflito não alinhando-se aos blocos pró-URSS ou pró-EUA. E formariam um "terceiro bloco" de países neutros: o Movimento Não Alinhado.

Norte-Americanos e soviéticos travaram uma luta ideológica, política e econômica durante esse período. Se um governo socialista fosse implantado em algum país do Terceiro Mundo, o governo norte-americano entendia como uma ameaça à sua hegemonia; se um movimento popular combatesse um governo aliado aos EUA, logo poderia ser visto com simpatia pelo soviético e receber apoio.

A Guerra da Coréia (1950-1953), a Guerra do Vietnã (1962-1975) e a Guerra do Afeganistão (1979-1989) são os conflitos mais famosos da Guerra Fria. Além da famosa tensão na Crise dos mísseis em Cuba (1962) e, também na América do Sul, a Guerra das Malvinas (1982). Entretanto, durante todo este período, a maior parte dos conflitos locais, guerras civis ou guerras inter-estatais foi intensificado pela polarização entre EUA e URSS.

Esta polarização dos conflitos locais entre apenas dois grandes pólos de poder mundial, é que justifica a caracterização da polaridade deste período como bipolar. Principalmente porque, mesmo que tenham existido outras potências regionais entre 1945 e 1991, apenas EUA e URSS tinham capacidade nuclear de segundo ataque, ou seja, capacidade de dissuasão nuclear.

Músicas na ditadura

Acorda Amor
(Julinho de Adelaide / Leonel Paiva - 1974)
Intérprete: Chico Buarque

Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
minha nossa santa criatura
chame, chame, chame, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão da escada
fazendo confusão, que aflição
São os homens, e eu aqui parado de pijama
eu não gosto de passar vexame
chame, chame, chame, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses convém às vezes você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha roupa de domingo e pode me esquecer
Acorda amor
que o bicho é bravo e não sossega
se você corre o bicho pega
se fica não sei não
Atenção, não demora
dia desses chega sua hora
não discuta à toa, não reclame
chame, clame, clame, chame o ladrão

Histórico: Após as canções “Cálice” e “Apesar de Você” terem sido censuradas pelo sistema repressivo, Chico Buarque achou que seria mais difícil conseguir aprovar alguma música sua pelos agentes da censura. Escreveu então “Acorda Amor” com o pseudônimo de Julinho de Adelaide para driblar a censura. Como ele esperava, a música passou. Julinho ainda escreveria mais 2 músicas antes de uma reportagem especial do Jornal do Brasil sobre censura, que denunciou o personagem de Chico. Após esta revelação, os censores passaram a exigir que as músicas enviadas para aprovação deveriam ser acompanhadas de documentos dos compositores.

Acorda Amor é um retrato fiel aos fatos ocorridos no período que teve seu ápice entre 1968 (logo após a decretação do AI-05) e 1976 quando, teoricamente, a tortura já não era mais praticada pelos militares. Diversas pessoas sumiram durante este período após terem sido arrancadas de suas casas a qualquer hora do dia ou da noite, e levadas para DOPS e DOI-CODI´s espalhados pelo Brasil. A falta de confiança era tão grande que as pessoas tinham mais medo dos policiais (que seqüestravam, torturavam, matavam e, muitas vezes sumiam com corpos) do que de ladrões. A ironia do compositor é tão grande que, quando os agentes da repressão chegam a casa chamam-se os ladrões para que sejam socorridos.



Apenas um Rapaz Latino-Americano
(Belchior – 1976)
Intérprete: Belchior

Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes e vindo do interior
Mas trago, de cabeça, uma canção do rádio
Em que um antigo compositor baiano me dizia
Tudo é divino, tudo é maravilhoso
Tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas,
caminhado meu caminho
Papo, som dentro da noite e não tenho um amigo sequer
E não acredite nisso, não, tudo muda e com toda razão
Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes e vindo do interior
Mas sei que tudo é proibido aliás, eu queria dizer
Que tudo é permitido até beijar você no escuro do cinema
Quando ninguém nos vê
Não me peça que lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas e eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém
Mas não se preocupe meu amigo com os horrores que eu lhe digo
Isso é somente uma canção, a vida, a vida realmente é diferente
Quer dizer, a vida é muito pior
Eu sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco
Por favor não saque a arma no "saloon" eu sou apenas um cantor
Mas se depois de cantar você ainda quiser me atirar
Mate-me logo, à tarde, às três, que à noite tenho um compromisso
E não posso faltar por causa de você
Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco
Sem parentes importantes e vindo do interior
Mas sei que nada é divino, nada, nada é maravilhoso
Nada, nada é sagrado, nada, nada é misterioso, não

Histórico: Escrita em 1976, a canção de Belchior caracteriza o Brasil da época de forma irônica. “Apenas um rapaz latino americano” é um protesto contra a repressão que censurava os artistas e, principalmente músicos da época.
Versos como “Por favor não saque a arma no "saloon" eu sou apenas um cantor / Mas se depois de cantar você ainda quiser me atirar / Mate-me logo, à tarde, às três, que à noite tenho um compromisso / E não posso faltar por causa de você” seriam quase como uma pergunta: O que vocês tanto têm a temer que não podem nem deixar que nós, que somos somente músicos, digamos e cantemos o que pensamos??

Apesar De Você
(Chico Buarque – 1970)
Intérprete: Chico Buarque

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.
Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal

Histórico: No mesmo ano em que a seleção brasileira conquistou o tricampeonato mundial, as torturas e desaparecimentos de pessoas contrárias ao regime do general Médici eram constantes. Chico Buarque fez a letra dirigida exatamente à Médici, e enviou aos censores certo de que não passaria. Passou e foi gravada. O compacto atingia a marca de 100 mil quando um jornal insinuou que a música era uma homenagem ao presidente. A gravadora foi invadida e todas as cópias destruídas. Chico foi chamado a um interrogatório para prestar informações e esclarecer que era o “você” mencionado na música. “É uma mulher muito mandona, muito autoritária”, respondeu. A canção só seria regravada em 1978 num álbum que leva o nome do autor da música.

Mapa da Guerra Fria

Vladimir Herzog


Vladimir Herzog nasceu na Iugoslávia, em 1937. Em 1942, emigrou para o Brasil, com os pais Zora e Zigmund, fugindo do nazismo. Formou-se em filosofia pela USP, mas foi como jornalista que ele se destacou, tendo trabalhado em importantes órgãos de imprensa como o jornal O Estado de S. Paulo, onde ajudou a implantar a sucursal de Brasília, então recém-inaugurada. No início da década de 60, casou-se com a publicitária Clarice Herzog, com quem teve dois filhos, Ivo e André.

Em 1963, teve sua primeira experiência na TV, como redator e secretário do "Show de Notícias", telejornal diário do antigo Canal 9 de São Paulo, TV Excelsior. Em 1965, viajou para Londres, contratado pelo Serviço Brasileiro da BBC. De volta, trabalhou de 1968 a 1973 na revista Visão, como editor de cultura. Em 1972, foi para a TV Cultura, secretariar o recém-lançado “Hora da Notícia”. Paralelamente, dava aulas na FAAP e na ECA-USP.
Em todas as suas atividades, Vladimir sempre se pautou pela extrema seriedade e honestidade profissional. O mesmo rigor e o zelo que exigi de seus subordinados, impunha-se a si próprio. Em 1975, assumiu a direção de jornalismo da TV Cultura, antevendo, finalmente, a possibilidade de por em prática seu conceito de responsabilidade social do jornalismo na TV. No projeto que enviou ao presidente da Fundação Padre Anchieta, Rui Nogueira Martins, e ao secretário de Cultura, José Mindlin, que ele chamou de "Considerações Gerais Sobre a TV Cultura”, diz: “Jornalismo em rádio e TV deve ser encarado como instrumento de diálogo, e não como um monólogo paternalista. Para isso, é preciso que espelhe os problemas, esperanças, tristezas, e angústias das pessoas ás quais se dirige. Um telejornal de emissora do governo também pode ser um bom jornal e, para isso, não é preciso ‘esquecer’ que se trata de emissora do governo. Basta não adotar uma atitude servil”.
Além do jornalismo, Vladimir tinha outra grande paixão: o cinema. Seu grande sonho era fazer um filme sobre Canudos. Em 1975, havia decidido, finalmente, realizar esse sonho, mesmo com o novo cargo, de diretor de jornalismo da TV Cultura, tomando todo o seu tempo. A repressão impediu-o.

Cronologia dos golpes militares na América Latina

Em 1964 - No Brasil, após o anúncio das reformas de base de João Goulart, e quando ele estava na China, os militares tomaram o poder depois de constatarem que as reformas de Jango visavam a implantação paulatina de um regime comunista no Brasil, havia várias organizações de esquerda que tinham interesse e davam suporte a esse golpe que foi impedido pelos militares a partir de Castelo Branco em 64.
Em 1968 - Castelo foi sucedido por Costa e Silva que com o AI5 endureceu mais o regime.
Em 1972- Costa e Silva foi sucedido por Emilio Garrastazu Médici que em seu governo possibilitou a maior taxa de crescimento econômico jamais vista no Brasil.
Em 1976- Inicia o governo de Ernesto Geisel que deu início a transição para a abertura política e um governo de transição.
Em 1980 até 1985- Entra o último general presidente foi João Batista Figueiredo, que finalmente possibilitou a abertura política, a volta total dos exilados e opositores do regime e após o governo seguinte, o de José Sarney, tivemos eleições diretas para presidente como é até os dias atuais.